quarta-feira, 1 de outubro de 2008

EUA, Av. / ESTADO DE SUSPIRO

VÍDEO-INSTALAÇÃO

no TEATRO TABORDA / TEATRO DA GARAGEM integrado no ciclo TRY BETTER. FAIL BETTER' 08

24 Set. a 26 Out. I Quarta a Domingo I das 18h às 21h30

Sala de Exposições




EUA/ CRUZAMENTO/ AV. DE ROMA. Desde que me lembro, deixa-me em estado de suspiro. EUA. Desde que me lembro, são os meus pés que me levam àquela AVENIDA e nela me elevam a uns centímetros do chão. Depois a minha escalada piso a piso, edifício em edifício dá-se naturalmente e mesmo que me distraia reparo na facilidade com que atinjo, em certos edifícios, pisos já mais elevados e aí vejo que dificilmente voltarei a poisar o pé no chão.
PORQUÊ A AVENIDA EUA? porquê a recorrente vibração com esta avenida em particular?
Sei talvez dizer que foi o momento em que percorri a pente fino de máquina na mão a sobrevoar e a disparar fotos por toda a avenida e o momento preciso em que fui levantar o rolo fotografado que vi nas minhas mãos materializada esta imensa ligação a esses edifícios no inspirado e inspirador jogo daquelas fachadas e suas linhas, alturas e malhas. Desde então esse material não deixou mais de produzir, de tempos a tempos, outros materiais, multiplicando-se, desdobrando-se e mesmo desmaterializando-se em material novo.

Sara de la Féria


Porquê este fascínio pelos edifícios? Pela cidade - a expressão por excelência do poder edificante de criar isolamento em espaços cheios de presença.
Numa cidade a comunhão e a solidão vivem harmoniosamente em confronto. E como é negativa a solidão e tão positiva a liberdade da não familiaridade. E como é cativante o mistério produzido pela presença incógnita e o sentimento de se ser um forasteiro na própria cidade.
Gosta-se da opacidade dos edifícios mas também do desgaste e fragilidade da sua matéria. Uma cidade será sempre um lugar de contradições, misto de vantagens e desvantagens, difícil de julgar, que tanto nos atrai e acolhe como nos oferece todo o tipo de resistências. Uma cidade é algo obstinado, plena, repleta de tudo e de inúmeros vazios.
Esta vivência ou condição edificada – a cidade – sempre tão positiva quanto negativa, foi a imagem de um futuro um dia projectada. Uma fantasia agora gasta pelo tempo e pela presença.
Talvez seja a contradição que faz vibrar o que sentimos vibrante. E dessa sensação surge de forma quase lúdica o jogo com o processo fotográfico: o negativo e o positivo - e como o jogo pode ser viciante - o negativo do positivo do negativo do positivo… Na procura de que algo mais se revele, revela-se a fragilidade matérica da película e com ela a fragilidade matérica dos edifícios, esses seres tão poderosos.

Andresa Soares


CONCEPÇÃO/REALIZAÇÃO/FOTOGRAFIA Sara de la Féria

EDIÇÃO VÍDEO/ REALIZAÇÃO Andresa Soares

COMPOSIÇÃO SONORA João Lucas

ANIMAÇÃO Luísa Costa Gomes